quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A história da visita do Cédric

Bom... Estava louca por ver o Cedric, louca  pela hora  da visita... Então levantei-me essa manhã completamente alegre à espera de uma visita especial. Tomei o pequeno  almoço procedimento igual com os comprimidos, e devorei o almoço cheia de fome mas com um nó enorme do estômago, e a tão esperada hora da visita.
Como eu esperava os meus pais entraram, e disseram-me: Vamos até lá fora  mas o Cedric ligou-me a pouco e disse-me que não podia vir.
Sei que chorei a hora da visita toda... chorei e não contive o choro perante os enfermeiros.... Todo o tempo foi a falar com o Cédric ao telefone, ele a desculpar-se e eu só perguntava Porquê?
Como é certo lembrei-me daquele abraço que apertado que me sussurou ao ouvido: Sê forte. então limpei as minhas lágrimas respirei fundo e acalmei-me. Dei um beijo aos meus pais e fui para aquele maldito depósito de gentes.
Fui de novo à casa de banho e chorei até ficar de novo com os olhos inchados. Agarrei-me à pulseira e pensei pode ser que um dia bem rápido tenha alta.
Mal jantei e fui-me embora para a cama.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Abraço de Força

Dentro daquele hospital eu passei a ter a completa noção de tudo o que estava em meu redor. Comecei a ver como enfermeiros tratavam doentes, aliás, como eles por vezes estavam mais doentes que os próprios doentes. Eu estava sã!
Doeu-me o coração e a alma perceber que os doentes eram tratados a baixo de nada. Sem dignidade, sem esperança. Nesse dia um doente pediu um papel, um simples papel para escrever. Tal como eu havia pedido no primeiro dia que entrei lá. A mim deram-me várias folhas e caneta, aquele doente disseram-lhe que não tinham folhas, que escrevesse num talão, e estenderam-lhe um pedaço de papel usado e enrolado.
Nesse dia, fui chamada ao gabinete médico da psiquiatra que acompanhava o meu caso. Entrei, sentei-me e ela começou a lengalenga:
-Como tens estado? -Ao que eu respondi que estava bem e que me queria ir embora. Ela advertiu-me: -Sim, segunda-feira se tudo correr bem vais de licença, não posso dar-te alta hoje, a colega que te internou está de folga.
Eu já sabia de tudo aquilo. Em fim, a conversa continuou com meia dúzia de lengalengas, sem nunca me perguntar nada que ela não soubesse já. E eu dizia-lhe o que ela queria ouvir, quando ela me perguntou porque é que eu comia pouco eu respondi-lhe: -Não é nada directamente a ver com a fome, eu não gosto muito desta comida, sempre fui esquisita com as comidas.
Ela sossegou, mal sonhava ela que eu não comia porque cada vez que colocava o garfo na boca o meu estômago rejeitava a comida, quando caía no meu estômago quase sempre vazio sentia uma sensação de mal estar que me agoniava.
finalizada a sessão da psiquiatra fui almoçar, estava como se costuma dizer: com o estômago cheio de borboletas, teria a visita da minha grande amiga que eu condenei por contar aos meus pais do meu devaneio.

Deitei-me e dormi até à hora da visita, era a única doente daquela ala que recebia visitas diárias, foram-me chamar ao quarto: -Tens visitas.
Eu corri para a porta, a minha mãe entrou com o meu pai e informou-me: -Tens duas visitas lá fora.
Eu pensei que seria a minha grande amiga e o Cedric, mas estava tão enganada que quase senti raiva quando me apercebi que era a Dona Ana que me tinha ido visitar.
Abracei a minha amiga, não me lembro bem do que falamos, há muitas coisas que o meu cérebro tem dificuldade em lembrar, quando estava quase na hora do fim da visita a Dona Ana deu-me um abraço apertado e disse-me: Força, eu acredito que consegues.
A Dona Ana era uma senhora que tinha uma clínica onde se faziam terapias de Reiki, na qual eu participava pois sou terapeuta desta modalidade. Foi a voz dela que me seguiu, aquelas cinco palavras de força foram mesmo a minha força.
No final da visita fechei-me na casa de banho a chorar, era o único sitio onde ainda poderia ter alguma privacidade, embora também naquele sitio já tivesse tido a minha privacidade roubada.
Olhei-me ao espelho e despi-me, reparei como havia emagrecido,  sentia falta das minhas roupas do dia a dia, aquele fato de treino estava a dar cabo do resto da minha auto-estima, mas ouvia a vós da Dona Ana: -Força, eu acredito que consegues, força, força, força....
Chorei em frente àquele espelho, chorei enquanto me apeteceu, mas tinha limite de tempo, sabia que se não saísse da casa de banho viriam à minha procura.
Parei de chorar, voltei a vestir-me e lavei a cara com bastante água, respirei fundo e pensei: EU VOU SAIR DAQUI. FALTA POUCO.
No dia seguinte o Cedric tinha prometido vir visitar-me, e eu esperava-o,  mas isso eu conto outro dia...

domingo, 21 de outubro de 2012

Decisão de Sobrevivencia

Depois de me sentir um dia tremendamente dorgada e de ouvir os enfermeiros dizerem que iriam aumentar a medicação de um paciente sem a autorização do seu médico pensei duas vezes em voltar a tomar aquela medicação.
Na manhã seguinte ao pequeno almoço lá estavam os malditos comprimidos, a sensação de cabeça zonza, a falta de força, sentei-me à mesa, bebi metade do leite, comi as bolachas e em seguida coloquei os comprimidos na boca, bebi o resto do leite e antes que se derretessem peguei o guardanapo e simulei limpar a boca, onde deitei os comprimidos anda antes de começarem a derreter.
Nunca ninguém desconfiou. Nessa tarde já andei menos drogada, a minha mãe já me viu de forma diferente, acreditou que a medicação estava a fazer efeito, mas mal sabia ela que a medicação era a minha força, a minha capacidade e vontade de sair daí. Nessa noite mudei o tom dos meus textos, fingi que queria ir embora e que estava tremendamente bem. Que não precisava de estar naquele sitio. Nessa visita eu fiz um juramento à minha mãe: -Eu vou sair daqui.
No dia seguinte a minha mãe levaria uma grande amiga para me ver, eu aguardava ansiosamente.
Ela não entendia como, mas eu estava realmente decidida a saír daquele local onde enfermeiros estavam mais loucos que os próprios pacientes.
A partir desse momento, não existiram mais medicamentos enquanto tive dentro do hospital, foi a minha força, a minha capacidade de sobrevivencia que me fizeram ser quem sou hoje.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A visita

Depois daquela sessão voltei para o meu quarto, voltei a minha pequena sela e imediatamente fui inquirida pela minha colega: -Onde é que foste? -Ao que eu respondi não saber ao certo e não falei mais o resto da manhã. Escrevi no meu caderno, a Susana foi andar para o corredor, perguntou-me se queria ir com ela mas como não obteve resposta foi sozinha. Mais uma das infinitas cartas de amor para o Cedric.
Comecei a ouvir os talheres no corredor, hora do almoço, o meu primeiro almoço.
A comida não era de todo terrível, mas era insonsa, sem sabor. Faltava-lhe ali o toque mágico da cozinheira minha mãe. Almocei, comi pouco, sempre fui esquisita na cozinha e lá estava o tal funcionário que com todas as letras me faltou ao respeito e como numa psiquiatria nós somos os loucos e eles os deuses tive de me calar. Não me falava, limitava-se a passar por mim com aquele ar de superior.
Depois de almoço e de mais uma dose de medicação senti-me zonza, fui-me deitar, daí a umas horas apareceria a minha mãe.
Deixei-me dormir e fui acordada velozmente por uma enfermeira: -Levanta-te, a tua mãe está ali.
Eu levantei-me e sentia-me cada vez mais zonza, mais drogada.
Dei um beijo à minha mãe e um ao meu pai, e disse para a minha mãe em quase que em surdina: -Assina o termo de responsabilidade, quero-me ir embora daqui.- Ao que ela me respondeu imediatamente que não o fazia. Eu utilizei todas as minhas armas para argumentar. até que comecei a chorar e repeti inúmeras vezes: -Não vez que estou toda drogada? Eu estou toda drogada, drogaram-me, estou drogada... estou drogada... tou drogada...- E repeti isso uma centena de vezes até que a minha mãe já a chorar me disse: -Pára, não te posso levar, e se continuas a torturar-me assim não venho ver-te mais. (wooooooooow, será que a minha colega de cela tinha razão?)- Após a minha mãe dizer isto eu acalmei, tentei guardar a dor só para mim.
Fingi estar plenamente bem o resto da hora da visita, a minha mãe levou o portátil do Cedric para me entreter. Levou o meu telemóvel para eu lhe telefonar. Eu telefonei-lhe e pedi-lhe inúmeras vezes que esperasse por mim, ele prometeu que o faria.
Entretanto a minha mãe foi informada que a visita havia terminado e que ela tinha de sair, despediu-se e sei que no caminho para casa chorou o tempo todo.
Nessa tarde após o lanche fui de novo para o quarto a visão aterradora de ter grades nas janelas deixava-me apavorada. Pensei inclusive em fugir dali.
Nesse dia a minha mãe deu-me um rebuçado que eu guardei com carinho como se fosse o meu pequeno tesouro. Pois quando nos vemos privados de tudo o que temos as pequenas coisas são tesouros.
Fiquei alí sem fazer nada até à hora de jantar. Depois jantei e fui para o quarto onde comi o meu precioso rebuçado. Desta vez não trinquei como fazia em casa, saboreei-o, eis que me entra um enfermeiro pelo quarto a dentro, foi me fechar os estores pois eram fechados com uma ferramenta especial que só eles tinham. Olhou para mim e gritou apavorado: -O que estás a comer?-  Ao que eu respondi prontamente -Um rebuçado -Ele mantendo o mesmo tom disse-me para lhe mostrar e eu mostrei pondo a língua de fora. Imediatamente ele mudou o tom mas disse-me: -Não podes ter essas coisas cá dentro- Eu só pensava "é só um rebuçado" (Para quem está de fora e deve estar a pensar que é incrível, eu não condeno a atitude daquele enfermeiro, eles lidam com todo o tipo de gente. Lidam com todo o tipo de psicoses, ele teve medo que fosse algo que atentasse contra a minha vida).
Depois da ceia fui deitar-me e adormeci, mas acordei tempos depois a precisar de urinar, quando saí da casa de banho ouviam-se vozes no corredor, fui à procura de alguém na esperança de ter companhia e entre a forma horrenda como eles falavam de nós doentes ouvi um enfermeiro dizer: -Temos de dar mais sedativo ao doente da cama X do quarto Y que ele andava pelos corredores a noite passada. (credo... dar mais sedativo? Sem autorização de um médico?) -Fiquei apavorada com o que ouvi, para mim chegava de palhaçadas, iria saír dalí quer estivesse boa, quer não.
Voltei para a cama e voltei a dormir.
Na manhã seguinte era uma nova etapa. Mas essa é uma história que vos vou contar amanhã em: "A decisão de sobrevivência"







terça-feira, 16 de outubro de 2012

Cobaia de serviço para estudos da universidade

Como havia escrito no ultimo post, deitei-me após o almoço naquela cama e caí num sono profundo, fui acordada não sei bem quanto tempo depois por uma enfermeira que informou que a ia acompanhar.
Fui com ela e sinceramente nem noção tenho do caminho que percorri, entrei numa sala cheia de raparigas. E foi apenas nessa altura que a enfermeira me informou que iria ajudá-las com um trabalho. Ao que imediatamente pensei: Não sou um animal em estudo.
Falei com elas e para variar perguntaram-me porque é que tinha tentado o suicídio. novamente eu respondi que não havia um "porquê", era um pensamento que passava aturdido na minha cabeça. Eu tinha de conseguir matar-me porque queria descobrir o que havia depois da morte, porque acreditava que a minha missão estava completa aqui na terra. Disse-lhes isto e elas olharam-me como se eu fosse um extraterrestre. Então percebi que não me iam deixar em paz se não arranjasse um motivo. Eu inventei o motivo. Contei-lhes a história mais esfarrapada sobre estar assim porque a minha vida escolar era difícil, porque na escola era gozada, porque me tratavam mal psicologicamente, o que não deixou de ser uma verdade, no entanto não era o motivo. Acredito que talvez fosse um dos mais pequenos motivos.
Quando eu saí daquela sala a enfermeira disse-me: estiveste muito bem, agora vai para o quarto que em breve chamamos-te para o lanche.

Em fim, este é talvez o post mais pequeno, a parte da história mais suave da minha estadia naquele depósito de gentes.
Retratei este episódio porque acho inadmissível com menos de 24 horas de internamento já ser objecto de estudo para alunas de uma universidade, alunas essas que não me conheciam nem eu conhecia.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O inicio de 5 longos dias no depósito de gentes

Como havia prometido no post anterior, irei hoje contarvos pelo menos uma pequena parte da minha estadia naquilo a que hoje em dia chamamos ala psiquiátrica, mas ao lugar pelo qual eu chamo depósito de gentes.

Havia prometido ao Cedric que me iria curar, estava disposta a tudo, e na verdade se o primeiro passo para o tratamento da depressão é admiti-la, eu admiti!
Depois de saltitar de urgências em urgências de dois hospitais que não profiro o nome pela sensibilidade da questão e porque ninguém em Portugal ousa contar as verdades sobre o sector da saúde, lá fui enviada para a urgência do hospital "S".
Voltei ás urgências do hospital, a mesma psiquiatra, o mesmo atendimento e o ritual de praxe, convidou a minha mãe a sair do consultório, e ela prontamente saiu. Assim que fiquei a sós com a Doutora ela perguntou: -Estás com algum problema? - Ao que eu respondi prontamente que não, que o problema era mesmo eu, a minha cabeça, os meus pensamentos que eu mandava embora e eles voltavam. Próxima pergunta: -Tens alguma coisa mais a contar-me que não queres que a tua mãe saiba? -Ao que novamente respondi negativamente. Ultima pergunta e a que realmente ela me queria perguntar: -Estás Grávida? (drusssst) - acho que fiquei tão especada com a pergunta, que lhe disse só um não tão redondo como o formato dos meus lábios após esta pergunta. Não quis acreditar que ela tinha mandado a minha mãe embora porque me queria perguntar se estava grávida, claro que provavelmente se eu estivesse grávida não me iria internar naquilo a que ela chamava pedopsiquiatria.
A minha mãe entrou novamente e ela sem mais perguntas e sem dó nem piedade disse à minha mãe ignorando que tinha acabado de falar comigo e que eu era gente também: -bom, vamos interná-la, não é um sitio bom para se estar, mas acredito que no caso dela será a melhor opção.
No meu ver, nesse sitio eu iria curar-me e fui nessa perspectiva.
Entrei e eram grades por todo lado. Questionei-me vezes sem conta: -Porquê grades numa pedopsiquiatria?
Fiz o ultimo telefonema ao Cedric e entrei naquele mundo que desconhecia. Despedi-me da minha mãe e foi-me informado que como ainda não tinha os 18 anos excepcionalmente me iriam deixar ver os meus pais todos os dias. Eu questionei: Excepcionalmente porquê? Ao que me foi respondido friamente -Porque és a única menor de idade aqui. (woooooow?!) A única.... A única... A única... Como a única?
Pois bem, foram-me mostrar o quarto, um quarto com duas camas e tive muita sorte pois era o raro quarto que tinha a casa de banho privativa. Ao contrario do que esperava a minha colega de quarto (ou cela) tinha mais de 50 anos, tinha uma depressão cronica. Queixava-se de tudo e de nada, rogava a vida, era tudo o que eu não precisava.
Refugiei-me num pedaço de papel onde escrevi... escrevi... e depois jantei.
No final do jantar voltei ao quarto, voltei a dedicar-me à escrita e a chorar. Aquele depósito estava cheio de gentes apodrecidas pelo tempo que ali se encontravam. E eu tomei consciência disso quando me entraram no quarto (a minha colega de cela) e me perguntou: -à quanto tempo andas nesta vida? (aquilo suou-me como uma prostituta pergunta a uma notava) e eu respondi-lhe que era a primeira vez e esperava que fosse a ultima. Ela troçou de mim: -Olha, uma vez cá dentro nunca mais se volta ao mundo lá de fora.
Não perguntei nada, não disse nada, apenas voltei ao meu caderno onde escrevia cartas apaixonadas e loucas ao Cedric.
Chamaram-me para a ceia, bolachas e chá e um rol de medicamentos que eu nunca achei ter de tomar. Tomei tudo e voltei ao quarto, ia dormir quando a Susana (nome fictício) se chegou ao pé de mim e me disse: -Também sou nova aqui, só cá estou à dois meses. Mas já tive em "sitio X" durante 6 meses, fiz uma cura de sono, tive duas semanas em "sitio Y" e o meu marido vem me ver uma vez por semana, quantas vezes te deixam ver a tua família? -Todos os dias acho eu- Respondi. Mais uma vez a Susana achou que eu era uma ignorante e disse-me: Isso dizem eles a todas, a tua família vai se esquecer de ti. Habitua-te a isto não é tão mau como parece.
Não consegui pensar em mais nada caí num sono tão profundo que só fui acordada no dia seguinte pela enfermeira que estava ao serviço: -Tomem banho que daqui a bocado servimos o pequeno almoço.
Estava uma enfermeira simpática a distribuir esponjas pré ensaboadas, e perguntou-me de onde era, depois perguntou-me o que me tinha acontecido para estar ali e eu mais naturalmente que beber um copo de água respondi-lhe: Tomei comprimidos, mas fui internada porque quis. Ao que ela não me respondeu mais, acho que não acreditou. Eles estavam a dar lençóis da cama para colocar no chão das casas de banho, mas eu achei que uma toalha chegava. O que eu não sabia é que o escoamento da casa de banho era quase nenhum.
Então abri a totalidade da água quente como sempre fazia em casa, no entanto a água queimava tanto que foi difícil fechá-la e abrir a fria. Nesse incidente a casa de banho alagou. Eu tomei banho e ouvi um funcionário gritar comigo. Não era enfermeiro, penso que era das limpezas ou um auxiliar qualquer.
Entrou pela casa de banho a dentro e eu completamente nua, olhou-me de cima a baixo e eu tapei-me como pude e ficou alí a olhar para mim e a ralhar por a água já ter chegado ao quarto. Na altura só pensava: Ele está mais doente que eu, eu estou toda despida, não fiz assim tanto mal para ser tratada assim.
Saí da casa de banho cheia de medo, tremia e o funcionário continuava mesmo no refeitório a dirigir-se a mim com o desprezo com que me havia tratado dentro da casa de banho. Curiosamente depois do pequeno almoço e de me ter deitado na cama e dormido uma sesta isso já não fazia sentido, não me importei mais com aquele homem. (Continua com "Cobaia de serviço para estudos da universidade"

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

a vida com a Bete

Deixei o meu namorado de lado, acreditei que podia ajudar a Bete a ser uma pessoa melhor.
Desde ajudá-la a superar as auto-mutilações, fazer com que ela fosse uma pessoa mais feliz.
Ao inicio ela contou-me umas historias estranhas, desde a situação de que o cunhado a violava, a irmã não acreditava. Contou-me tudo isto através de uma carta que escreveu.
Joguei-me nesta amizade de cabeça, apoiei-a. Cheguei a estar com o meu namorado, receber uma mensagem dela a dizer: "vem depressa", e eu ia.
O meu namorado sempre bastante tolerante. Eu acabara por absorver toda a negatividade dela, chorar com ela e ir-me enterrando. Enquanto ela tomava Prozac para melhorar eu acreditava que era a unica que a podia salvar.
Fui caindo numa escuridão da qual não conseguia sair. E estava a criar um mundo no qual o Cedric não podia entrar.
A Bela, uma amiga que tínhamos em comum sempre me falou disso, sempre me tentou abrir os olhos.
Eu sem dar conta ia acreditando cada vez mais na verdade da Bete. "A MORTE ERA A UNICA SOLUÇÃO".
Comecei a pensar em matar-me, e em diversas formas de o fazer. Comecei por sentir também prazer com a dor, a seguir senti que não chegava, acreditei que não pertencia a este mundo e queria conhecer a morte.
Comecei a pensar em enforcamento. Cheguei a colocar um saco na cabeça fechado, tentar prender as mãos à cama e terminar com a vida que tinha.
Chegava a escola e via em todo o lado por onde a Bete passava a frase: I HATE ME.
O meu namorado não se afastou de mim mas assustava-se comigo.
Um dia como tantos outros cheguei da escola e fui aos medicamentos da minha mãe, tinha decidido, ia morrer, queria suicidar-me como Florbela Espanca, mas acabei mais como no livro do ilustre Paulo Coelho "verónica decide morrer".
Tomei dezenas de comprimidos, escrevi cartas que nunca foram lidas, e toda a noite vomitei... Eu não me recordo disso, mas a verdade é que na manhã seguinte estava um farrapo.
Fui à escola, não me lembro desse dia. Lembro-me apenas de ter acordado no meu quarto com a minha mãe ao lado a dizer-me; -Como podeste fazer-me isto?
eu não tinha resposta, contei-lhe tudo o que se tinha passado, e na tarde do dia seguinte fui à urgencia de psiquiatria.
A médica passou-me medicação e eu voltei para casa. Dormi cerca de 3 dias. Mas não me acertou com a medicação à primeira. Eu não via melhoras, o Cedric estava desesperado e num certo dia pus a mão na consciência e decidi aceitar o internamento que me havia sido proposto na primeira consulta.
Nessa manhã de dia 5 de Junho de 2008 sussurrei ao ouvido do Cedric: Vou-me tratar. Vou ficar boa por ti.
Nessa tarde na consulta fui internada, (toda a história do internamento será contada no próximo post) saí no dia 8 pois os medicos acharam que eu estava belíssima para ir para casa.
Quando sai do hospital a Bete fingia que não me conhecia, o meu irmão, meu ídolo nem uma mensagem a perguntar como estava, e aí eu dei uma volta à minha vida.